A graúda safra brasileira de soja, que era celebrada como um novo recorde que colocaria o País no topo do ranking da produção mundial do grão, está comprometida. Mais uma vez o clima aparece como principal vilão. Chuvas fortes no Centro-Oeste e Norte do Brasil e as altas temperaturas no Sul foram determinantes para esta quebra.

O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que a safra chegaria a 90 milhões de toneladas ante as 81,5 milhões de toneladas do período anterior, o que representaria um aumento de 10,4%. Mas só no Paraná, por causa das altas temperaturas registradas no estado no final de janeiro, vão ter uma queda de 2,01 milhões de toneladas do grão.

Segundo o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná, Francisco Simioni, as perdas econômicas no estado com a quebra das culturas de verão pode chegar a R$ 2,2 bilhões. “Até meados de janeiro tínhamos uma perspectiva muito boa para a soja e as demais culturas. Esse quadro acabou virando depois do dia 20 com o processo de temperaturas muito elevadas e chuvas irregulares que prejudicou a produtividade da lavoura de soja”, explica.

E os paranaenses já tiveram perdas severas na última safra de inverno, com quebra por causa das geadas que atingiram as regiões produtoras. Simioni reconhece os impactos causados para a renda dos agricultores, mas acredita que a renda das últimas três safras com preços acima da média vão amenizar a situação. “Parte das perdas foram compensadas pelos bons preços de comercialização. Isso serviu para dar um fôlego para o produtor manter seus investimentos”, ressalta o diretor do Deral.

Simioni informa que a Secretaria da Agricultura do Paraná já está se mobilizando junto às federações e sindicatos de produtores locais para levantar as perdas e agilizar processos de laudos junto às seguradoras e ao governo federal para a reparação dos prejuízos.

No Centro-Oeste, os produtores amargam com as perdas devido ao excesso de chuvas na região. Estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta que 501,27 mil hectares de soja deixaram de ser colhidos no período ideal para a colheita, entre 14 a 21 de fevereiro, devido ao acúmulo de água nas lavouras. Isto representa, conforme a entidade, uma perda aproximada de 487 mil toneladas, o que representaria 30% da área referida.

Nos cálculos do Imea, considerando este cenário, a queda de produtividade chegaria a 1,8%, derrubando a média para 53,02 sacas por hectare, e a produção para 26,39 milhões de toneladas, o que representaria um prejuízo financeiro de R$ 438 milhões.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), Glauber Silveira, relata que o tempo já melhorou na região, mas os problemas podem ser aumentados pela logística, já que a entrega deste grão nos portos atrasou tanto pela não retirada do grão da lavoura quanto pela impossibilidade de trânsito nas regiões atingidas pela chuva. “Tivemos dez dias intensos de chuvas, principalmente na metade norte do estado. Na região de Sorriso, tivemos perda com muita soja que estragou e deixou os produtores apreensivos”, afirma.

No Rio Grande do Sul, de acordo com o que o Jornal do Comércio já noticiou no dia 18 de fevereiro, as perdas na safra devem ser pontuais por causa de dois períodos de estiagem ao longo da safra: no final de dezembro e no início de fevereiro. A colheita prevista pela Conab é de 13,09 milhões, ainda considerada recorde, ultrapassando em 4,5% os números da temporada passada, de 12,53 milhões de toneladas. O retorno das chuvas na segunda quinzena de fevereiro deram alento aos produtores em uma das fases mais críticas da cultura.

O informativo conjuntural da Emater da última semana indica que a soja entrou na fase de maturação, com 3% da área já em condição de colheita. As lavouras apresentam variação no potencial produtivo, mas sem indicações de quebra significativa.